Coisas que não vemos mas sabemos existir. Desejos e histórias que nascem e morrem num piscar de olhos. Palavras de um cérebro que sente e um coração que pensa. Eu nunca vi uma estrela cadente e mesmo assim procuro por ela todas as noites.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Jornalismo e Literatura: Feitos um para o outro?

Vivemos tempos estranhos. Tempos onde os limites se fundem, onde não existe mais o certo ou errado, preto ou branco. Existe chumbo, off-white, preto sépia, branco acinzentado. Tudo se justifica. Difícil escolher com tantos tons e nuances diferentes. Mais difícil ainda saber o limite entre realidade e ficção num mundo tão possível como nosso. Possível? Sim, há possibilidades. Assim surgiu o Jornalismo Literário, primeiramente sorrateiro, para então se transformar em gênero campeão de vendas. Mas na fronteira entre o fato jornalístico e a literatura, de que lado ficamos?
O jornalismo literário tem uma linguagem híbrida que atrai o leitor. Essa mistura de realidade com literatura é interessante, pois retrata a sociedade e os seus acontecimentos triviais. Como disse Arbex Jr., a narrativa de não ficção “bebe da fonte dos acontecimentos históricos” e para isso é imprescindível que exista qualidade de fatos. Mas é a beleza da linguagem literária que imortalizou obras como Hiroshima ou A sangue frio.
Hoje, a blogosfera voltada para novas idéias e pequenas publicações se assemelha aos jornais pequenos do séc. XVIII, onde a profissão de jornalista e escritor andavam juntas. Com a necessidade de se escrever sobre a vida como narradores ativos e não simples observadores, o jornalismo se consolidou como gênero literário na década de 30. Recessão, Guerra Civil Espanhola. Todo jornalista é escritor e todo escritor se torna jornalista.
A paixão pela literatura vem de berço. Mas como ter paixão em um país onde somente 20% são letrados e dos quais só 10% são capazes de extrair sentido do que estão lendo?
Penso que seja difícil produzir literatura a partir de fatos que são distorcidos pela mídia que monopoliza o que é veiculado. Esse gênero jornalístico não se utiliza muito de estatísticas e alguns podem achar que isso já o descaracteriza como jornalístico. Mas é principalmente por vivermos um momento de “showrnalismo” que a literatura pode vir como arma contra a alienação. Se a paixão pela literatura não vier do berço, que venha do dia-a-dia, das histórias que acontecem ao nosso redor. O incentivo de narrativas onde a não-ficção reina pode servir como passaporte para uma literatura cada vez mais esquecida. Não precisamos todos ser Saramagos, Balzacs ou Capotes. Mas pelo menos saibamos algo sobre suas obras e que seja reconhecida a importância delas para o Jornalismo e para a Literatura. Se existirá fronteiras entre realidade e ficção, não sei dizer. O jogo é o mesmo, para jornalistas e escritores: seduzir. Nada é mais prazeroso do que um texto bem escrito. A sedução das palavras é fundamental. E em tempos tão possíveis, o jornalismo literário vêm como um presente para que haja pausa no imediatismo e se abra uma brecha à reflexão.