Coisas que não vemos mas sabemos existir. Desejos e histórias que nascem e morrem num piscar de olhos. Palavras de um cérebro que sente e um coração que pensa. Eu nunca vi uma estrela cadente e mesmo assim procuro por ela todas as noites.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Estiagem




Há épocas em que a gente não se encaixa muito bem no mundo. Dias em que não há sorvete, festa ou programa que tire a sensação de que algumas coisas precisam ser consertadas, outras curadas e porque não algumas jogadas fora. Eu chamo de tempo de estiagem, porque não há nada que cresça, nada que floresça, nada que maravilhe. É um tempo gasto com a bagagem que possuímos e as expectativas, um tempo que nem sempre queremos dividir com o mundo. Algo que na minha visão é um tanto quanto raro em tempos onde a vida é tão exposta. Há o Orkut, o Facebook, o MSN, o BBM. No tempo de estiagem não queremos ser alcançados, queremos ser compreendidos. A compreensão da distância é mais difícil. De alguma forma não há lugar onde se sinta confortável, porque não estamos confortáveis. E não há remédios, bulas ou receitas.
É também um tempo onde aqueles que realmente gostam e se importam com você vão estar ao seu lado em silêncio, mesmo que você recuse todos os convites para a balada do ano. Na estiagem só sobrevive o que é forte, o que luta pra estar ali.
Li hoje uma reportagem sobre como se tornou fácil saber aonde as pessoas vão, com quem elas vão, se elas estão assim ou assado, qual é o último bafo. Estiagem não combina com redes sociais, nem telefone, nem salto alto.
Talvez seja uma solidão necessária, uma chance pra pegar alguns pedacinhos que se soltaram e que não tem como varrer pra debaixo do tapete. Cada vez mais aprendo a respeitar o tempo de cada um mas, principalmente, o meu.
E sim, as pessoas que te amam e que você ama são importantes nesse momento. Mas de um jeito diferente, sem que se necessite saber todas as letras do que se passa. Mesmo porque nessas horas provavelmente serão as vírgulas que estarão contando.
E então quando menos se esperar, a terra estará pronta pra receber a chuva e respirar, para então receber as flores que, inevitavelmente, virão.