Coisas que não vemos mas sabemos existir. Desejos e histórias que nascem e morrem num piscar de olhos. Palavras de um cérebro que sente e um coração que pensa. Eu nunca vi uma estrela cadente e mesmo assim procuro por ela todas as noites.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Caio F.



Coisas que me fazem feliz, parte dois.
Ler Caio F.
Me inspira, me emociona e me deixa orgulhosa da Literatura Brasileira.
Deixo aqui minhas últimas descobertas, espero que gostem...


"Na terra do coração passei o dia pensando - coração meu, meu coração. Pensei e pensei tanto que deixou de significar uma forma, um órgão, uma coisa. Ficou só com-cor, ação - repetido, invertido - ação, cor - sem sentido - couro, ação e não. Quis vê-lo, escapava. Batia e rebatia, escondido no peito. Então fechei os olhos, viajei. E como quem gira um caleidoscópio, vi:

Meu coração é um sapo rajado, viscoso e cansado, à espera do beijo prometido capaz de transformá-lo em príncipe.

Meu coração é um álbum de retratos tão antigos que suas faces mal se adivinham. Roídas de traça, amareladas de tempo, faces desfeitas, imóveis, cristalizadas em poses rígidas para o fotógrafo invisível. Este apertava os olhos quando sorria. Aquela tinha um jeito peculiar de inclinar a cabeça. Eu viro as folhas, o pó resta nos dedos, o vento sopra.

Meu coração é um mendigo mais faminto da rua mais miserável.Meu coração é um ideograma desenhado a tinta lavável em papel de seda onde caiu uma gota d’água. Olhado assim, de cima, pode ser Wu Wang, a Inocência. Mas tão manchado que talvez seja Ming I, o Obscurecimento da Luz. Ou qualquer um, ou qualquer outro: indecifrável.

Meu coração não tem forma, apenas som. Um noturno de Chopin (será o número 5?) em que Jim Morrison colocou uma letra falando em morte, desejo e desamparo, gravado por uma banda punk. Couro negro, prego e piano.

Meu coração é um bordel gótico em cujos quartos prostituem-se ninfetas decaídas, cafetões sensuais, deusas lésbicas, anões tarados, michês baratos, centauros gays e virgens loucas de todos os sexos.

Meu coração é um traço seco. Vertical, pós-moderno, coloridíssimo de neon, gravado em fundo preto. Puro artifício, definitivo.

Meu coração é um entardecer de verão, numa cidadezinha à beira-mar. A brisa sopra, saiu a primeira estrela. Há moças na janela, rapazes pela praça, tules violetas sobre os montes onde o sol se p6os. A lua cheia brotou do mar. Os apaixonados suspiram. E se apaixonam ainda mais.

Meu coração é um anjo de pedra de asa quebrada.

Meu coração é um bar de uma única mesa, debruçado sobre a qual um único bêbado bebe um único copo de bourbon, contemplado por um único garçom. Ao fundo, Tom Waits geme um único verso arranhado. Rouco, louco.Meu coração é um sorvete colorido de todas as cores, é saboroso de todos os sabores. Quem dele provar, será feliz para sempre.

Meu coração é uma sala inglesa com paredes cobertas por papel de florzinhas miúdas. Lareira acesa, poltronas fundas, macias, quadros com gramados verdes e casas pacíficas cobertas de hera. Sobre a renda branca da toalha de mesa, o chá repousa em porcelana da China. No livro aberto ao lado, alguém sublinhou um verso de Sylvia Plath: "Im too pure for you or anyone". Não há ninguém nessa sala de janelas fechadas.

Meu coração é um filme noir projetado num cinema de quinta categoria. A platéia joga pipoca na tela e vaia a história cheia de clichês.

Meu coração é um deserto nuclear varrido por ventos radiativos.

Meu coração é um cálice de cristal puríssimo transbordante de licor de strega. Flambado, dourado. Pode-se ter visões, anunciações, pressentimentos, ver rostos e paisagens dançando nessa chama azul de ouro.

Meu coração é o laboratório de um cientista louco varrido, criando sem parar Frankensteins monstruosos que sempre acabam destruindo tudo.

Meu coração é uma planta carnívora morta de fome. Meu coração é uma velha carpideira portuguesa, coberta de preto, cantando um fado lento e cheia de gemidos - ai de mim! ai, ai de mim!

Meu coração é um poço de mel, no centro de um jardim encantado, alimentando beija-flores que, depois de prová-lo, transformam-se magicamente em cavalos brancos alados que voam para longe, em direção à estrela Veja. Levam junto quem me ama, me levam junto também.Faquir involuntário, cascata de champanha, púrpura rosa do Cairo, sapato de sola furada, verso de Mário Quintana, vitrina vazia, navalha afiada, figo maduro, papel crepom, cão uivando pra lua, ruína, simulacro, varinha de incenso.

Acesa, aceso - vasto, vivo: meu coração é teu."

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Sobre Lagartas com Asas

de Olivia Holsher

Tenho pensado sobre a velha história da lagarta querendo ser borboleta. Quanta espera, quanta paciência é necessária. Uma lagarta triste e cabisbaixa sonhando com aquelas asas coloridas e que passa a maior parte do seu tempo preocupada com tons e formas. O mundo esta cheio destas criaturas: pessoas desesperadas por beleza, almejando um ideal que nem sabem de onde vem.
Quem nunca fez ou ao menos pensou em fazer algum tipo de intervenção estética que atire a primeira pedra. Homens e mulheres, jovens e velhos, modernos e antiquados. A preocupação excessiva com a aparência começa a se tornar cultural, diria até banal. O corpo-objeto sendo cada vez mais objeto e menos gente. Perdemos assim a humanização do corpo, e tudo aquilo que chamamos defeitos. Aqueles sinais que nos fazem tão únicos começam a perder o sentido num mundo onde todos querem parecer iguais demais. Foi-se o tempo em que sardas, pintas e formas eram “charmosas”.
O ideal de beleza muda conforme os tempos. O que não muda é a historia da lagarta e da borboleta. A metamorfose. Só que no caso dos humanos, o preço pelo vôo pode ser caro demais. Cada vez mais vejo mulheres morrendo em mesas de cirurgia em nome de uma afirmação que nunca virá. A idealização do que possa ser perfeito ultrapassa o respeito pelo corpo, respeito pelo tempo. Rostos plastificados, silicones excessivos, banalização do vulgar.
Sinto falta de uma metamorfose interior, um aflorar de respeito e carinho. Falta de bons dias, sorrisos no elevador, conversas que ultrapassem a receita novela-tragédia-auto-ajuda. Alguém, por favor, abre aí uma clinica de embelezamento da alma!
Ser a favor da vaidade não é a mesma coisa que fazer dela um propósito de vida. As academias estão cheias de mulheres lindas, saradas e ignorantes. Os bares e as festas estão repletos de belos rostos e espíritos pobres. Um dia um amigo meu chegou a dizer que não importava que a menina não tivesse conteúdo, o importante era a “barriga tanquinho” que ela tinha. Não estou sugerindo que se fale de Dostoievski em plena danceteria. O fato aqui é: quem lê Dostoievski? Cadê as discussões literárias, a troca de experiências, a reflexão sobre os rumos que a humanidade toma?
A quantidade crescente de meninas desenvolvendo bulimia e anorexia também é gritante. Borboletas insatisfeitas, morrendo lentamente sob a pressão de serem aceitas. Coloridas por fora e monocromáticas por dentro.
Então decidi que se houvesse uma clínica de embelezamento da alma haveriam sessões de filosofia, aulas de gentileza, massagens culturais. E tudo indolor, ao preço simples de respirar e refletir, sem que seja o reflexo do espelho. E ainda assim passar o creme anti-rugas antes de dormir, sem medo de que a alma fique enferrujada.

PS: Esse é o texto que ganhou em 3o lugar no I Concurso de Crônicas da Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto no dia 11 de novembro, foi praticamente o Oscar pra mim!rs Certificado na parede e dinheirinho na poupança literária! =D

O vírus do Amor

Coisas que me fazem feliz, parte um.
O que mais me interessa quando vou fazer uma entrevista: a história. Odeio ir atrás das fontes " oficiais ". São tediosas e na maioria das vezes seguem um roteiro que você encontra em todos os jornais da cidade, do país. Sim, elas são confiáveis. Mas extremamente desinteressantes.
Nada como uma entrevista que te envolva, aquela que te estampa um sorriso na cara. Nada como se deparar, num mundo tão cheio de notícias "oficiais" ruins, com uma história real e encantada, no sentido de que andamos muito desfalcados de notícias boas. Não sei se isso me deixa menos jornalista. Mas me faz mais humana.
Foi por esse ponto de vista que escolhi o tema da minha matéria especial de fim de semestre: a Associação Síndrome do Amor. Quando entrei na Casa do Cuidador, eu era uma estudante em busca de fontes. Quando eu saí, eu era uma estudante com muito mais que uma história nas mãos; eu tinha um coração infectado.
A história da Marília, presidente da Associação, já dava uma matéria e tanto. Pra mim, foi como receber uma recarga de energia positiva(fim de ano me desvitaliza), ela é aquela pessoa que te abraça com um sorriso. O orgulho com que ela fala do filho, portador da Síndrome de Edwards, que morreu aos 17 meses de idade, é o tipo de sentimento que muitos pais de filhos sadios e vivos não têm. Amor incondicional, tão nítido, que por um momento senti que podia tocar nesse amor, como se fosse concreto, tão sólido ele é.
O carinho da equipe toda, o calor, a disposição de simplesmente fazer o bem a alguém que sofre. Não precisa dinheiro, não precisa presente. Ali o pagamento é em abraço, em "obrigados", em palavras.
A mãe do Thales podia ter desistido de tudo, se conformado com o diagnóstico dele e seguido em frente. Mas ela escolheu ficar. Escolheu amar. E depois que ele virou "estrelinha" como ela mesmo diz, fez com que a vontade de viver do filho se trasformasse na Síndrome do Amor. Mais do que isso: ela encontrou no uso positivo da Internet, o caminho para a superação da sua dor. E contagiou o mundo. Esse é o tipo de vírus que eu desejo a todos. O vírus do amor.

OBS: Pra quem não entendeu bulhufas do que eu falei, dá uma olhadinha em www.síndromedoamor.com.br e visite-os!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Coração no casulo


Voando por aí percebi que, mesmo sendo borboleta, tinha eu um coração de lagarta. E voei pra bem longe do meu lugar comum em busca de algo que me alimentasse. Sinto fome o tempo todo e nunca fico satisfeita. Fome de saber, de conhecer, fome de amor. Penso que sempre fui tão preocupada em ser uma borboleta que me esqueci de perguntar como é que acontece a metamorfose mais importante: da alma. Nunca perguntei pra minha mãe e agora é tarde. Ela anda por ai, em jardins distantes, buscando um tipo pólen que também não sei se ela vai achar.

Estranho, muito estranho. Você nasce lagarta, feia e viscosa e passa o tempo todo pensando em como é ter asas e ser colorida. Eu pensava nos tons e cores que eu poderia ter. Nunca imaginei me sentir tão cinza, como nunca na vida.

Sabe o que é? De repente me dei conta que passei anos querendo voar por ai e aí olho pra lagartinhas enroladas em outras lagartinhas e tenho vontade de chorar. Se bem que nunca quis ser uma daquelas borboletas presas em alfinete também. Conheci um vagalume uma vez, sabe como é. Ele tinha um brilho que eu nunca consegui explicar. Eu quis que ele ficasse comigo pra sempre. Mas ele me disse que vagalumes duram somente uma noite quando são presos em caixinhas de fósforos. Sempre tive medo de perder meu brilho assim, dentro da caixa de fósforos dos outros. Sou uma borboleta noturna, acredite.

Tenho essas asas lindas e coloridas, tão bem delineadas em tons de vermelho-carne e amarelo-ouro, passando até pelo azul e o violeta, com pontinhos brancos salpicados que mais parecem diamantes. O que eu tenho aprendido nos jardins que tenho freqüentado é que de repente a cor nem é tão importante se, por exemplo, você se apaixona por uma borboleta daltônica. Ou se é uma lagarta cega. Tá bom, não deve existir lagarta cega. Mas eu conheço algumas que vêem muito, mas não enxergam nada.

Eu acho que as outras borboletas têm a mesma dúvida. Tem até uma amiga minha, uma autêntica Pierídeos, que passa por longas fases num casulo que ninguém vê. Tem outra que acha que quanto mais jardins você freqüenta, mais se torna bela. E até tem aquela que ainda nem virou borboleta porque morre de medo de deixar o casulo. Da minha parte, uma borboleta colorida e toda confusa, eu posso assegurar que a única parte que ainda escondo no casulo é meu coração. Esperando que na próxima primavera ele esteja pronto pra voar também. Enquanto o coração não floresce, vou à procura de desabrochar a alma, me alimentando de liberdade, palavras e sorrisos. E experimentando novos tipos pólens, que vamos lá, isso nunca fez mal a ninguém.





quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Jornalismo e Literatura: Feitos um para o outro?

Vivemos tempos estranhos. Tempos onde os limites se fundem, onde não existe mais o certo ou errado, preto ou branco. Existe chumbo, off-white, preto sépia, branco acinzentado. Tudo se justifica. Difícil escolher com tantos tons e nuances diferentes. Mais difícil ainda saber o limite entre realidade e ficção num mundo tão possível como nosso. Possível? Sim, há possibilidades. Assim surgiu o Jornalismo Literário, primeiramente sorrateiro, para então se transformar em gênero campeão de vendas. Mas na fronteira entre o fato jornalístico e a literatura, de que lado ficamos?
O jornalismo literário tem uma linguagem híbrida que atrai o leitor. Essa mistura de realidade com literatura é interessante, pois retrata a sociedade e os seus acontecimentos triviais. Como disse Arbex Jr., a narrativa de não ficção “bebe da fonte dos acontecimentos históricos” e para isso é imprescindível que exista qualidade de fatos. Mas é a beleza da linguagem literária que imortalizou obras como Hiroshima ou A sangue frio.
Hoje, a blogosfera voltada para novas idéias e pequenas publicações se assemelha aos jornais pequenos do séc. XVIII, onde a profissão de jornalista e escritor andavam juntas. Com a necessidade de se escrever sobre a vida como narradores ativos e não simples observadores, o jornalismo se consolidou como gênero literário na década de 30. Recessão, Guerra Civil Espanhola. Todo jornalista é escritor e todo escritor se torna jornalista.
A paixão pela literatura vem de berço. Mas como ter paixão em um país onde somente 20% são letrados e dos quais só 10% são capazes de extrair sentido do que estão lendo?
Penso que seja difícil produzir literatura a partir de fatos que são distorcidos pela mídia que monopoliza o que é veiculado. Esse gênero jornalístico não se utiliza muito de estatísticas e alguns podem achar que isso já o descaracteriza como jornalístico. Mas é principalmente por vivermos um momento de “showrnalismo” que a literatura pode vir como arma contra a alienação. Se a paixão pela literatura não vier do berço, que venha do dia-a-dia, das histórias que acontecem ao nosso redor. O incentivo de narrativas onde a não-ficção reina pode servir como passaporte para uma literatura cada vez mais esquecida. Não precisamos todos ser Saramagos, Balzacs ou Capotes. Mas pelo menos saibamos algo sobre suas obras e que seja reconhecida a importância delas para o Jornalismo e para a Literatura. Se existirá fronteiras entre realidade e ficção, não sei dizer. O jogo é o mesmo, para jornalistas e escritores: seduzir. Nada é mais prazeroso do que um texto bem escrito. A sedução das palavras é fundamental. E em tempos tão possíveis, o jornalismo literário vêm como um presente para que haja pausa no imediatismo e se abra uma brecha à reflexão.

sábado, 15 de agosto de 2009

Parada Obrigatória - texto de Ailin Aleixo

Às vezes a distância é a melhor coisa que pode acontecer

Na guerra ou na vida, períodos de recuo são essenciais em qualquer boa estratégia. Ou simplesmente acontecem, atropelando nossa vontade-mesmo assim, continuam sendo estarrecedoramente úteis (depois de passada a raiva por termos sidos detidos na marcha, claro). Eles nos forçam a enxergar a situação sob outro prisma, com mais frieza e, por isso mesmo, de forma mais acertada e isenta dos erros de julgamento que a intensidade e a bile nos levam a cometer (o significado do ditado chinês "o lugar mais escuro é sempre debaixo da lâmpada" tornou-se, de repente, tão claro para mim como areia em dia de sol).

O grande barato de, vez por outra, nos distanciarmos do que é nos importa é sentir o que esse redimensionamento nos causa. E seja ele qual for, a retomada nunca é insípida: ou nos faz enxergar a placa de "rua sem saída" que teimávamos em não ver ou, feito polimento em prata, devolve o brilho ao que o tempo havia enegrecido. Talvez por isso alguns casais só se entendam depois de uma separação: a dor, a sensação de ficar sem centro gravitacional, não ter mais ali ao lado quem se ama, pode provocar verdadeiros milagres na dinâmica de uma vida em comum (e na vida solo). Mas não podemos contar com milagres, precisamos da razão. O problema é que nossa suposta sapiência tende a sub-avaliar o que se tem ou (talvez seja pior), exagerar na importância e, se quisermos ser felizes, é inútil proclamar independência emocional ou tornar-se escravo das paixões. Qualquer extremismo nos isola-e, curiosamente, é só dando um pequeno mergulho na solidão que compreendemos o valor do que nos rodeia e mora dentro de nós.
Tente um Monet

Depois de sofrer feito o cão por encarar tudo na base do oito ou oitenta, fiz um pacto comigo mesma: jamais levaria coisa alguma a ferro e fogo porque nada importa tanto. Absolutamente nada é imprescindível. Nem ninguém. Esse não é um discurso de auto-suficiência, pelo contrário, é uma reflexão de alguém que aprendeu na porrada (ou melhor, no choro) que só relativizando, tornando a existência e o coração mais leves, é que se pode ser feliz e, então, ser feliz com alguém. Pare de arrastar correntes, levar tudo tão a sério: a única coisa que você vai conseguir é uma úlcera. Cuide de quem ama mas não faça disso o objetivo da sua vida porque ficará, inevitavelmente, frustrado quando não tiver deles o que deu pra eles. Ou não tiver deles o que você ACHA que eles deveriam devolver. E será bem feito: você fez o que quis, porque quis, então não venha reclamar o troféu. Não existe prêmio para quem doa amor. Por isso, distanciar-se deveria ser uma tarefa cotidiana: evitaria que fôssemos sugados pelo redemoinho que sempre começa logo ali nos nossos pés, mas estamos ocupados demais pra ver. Evitaria que exercêssemos de forma tão eficaz, e perigosamente despercebida, nossos piores defeitos.

Quando algo começar a te enlouquecer, enfernizar ou surtar, use a técnica dos grandes admiradores de arte: recue diante da tela, mude de ângulo em relação a ela, observe as cores, os traços e os detalhes que, na correria, sempre passam despercebidos. Então notará que ela é muito mais do que aquele ponto preto que ficava, insistente, diante dos seus olhos.

Ser feliz, no final das contas, não é questão de sorte ou azar. É questão de perspectiva.

domingo, 9 de agosto de 2009

Aquele sobre merthiolates e espinhos

Não acredito em insensibilidade. Acredito em medo. Não acredito em maldade. Acredito em raiva não elaborada, em ódio. Acredito em mágoa, na mesma intensidade em que acredito em crescimento. Todos os sentimentos básicos, enraizados. Somos seres evoluídos perante a ciência, mas quando falamos em sentimentos, somos atrasados. Você sabe pedir prazos e preços mais baixos mas não sabe pedir perdão. Você é um excelente negociante mas é um péssimo ser humano. Dois lados, yin e yang. Você pode lutar contra a corrente se quiser. Pode deixar ser levado por ela, tanto faz. Acredite: no final, é você contra você mesmo. Sempre.
Calma lá, também acredito no amor. Na gentileza. Na coragem. E por incrível que pareça acredito, principalmente, na perseverança. Porque, diante todas as coisas que eu vejo, o complicado é continuar acreditando.
É dificil pedir ajuda. Significa, na sociedade, que falhamos e somos fracos, e claro que ninguém aqui quer ser fraco. Muitas vezes sou assim, ferindo para não ser atingida. Criando espinhos. E acabo sangrando sem ninguém para me dizer "quando casar sara", mesmo eu sabendo que não é bem assim. Você precisa de alguém que te diga que merthiolate não arde, alguém pra soprar quando arder. Você precisa, simples assim.
As vezes eu tenho preguiça de certas pessoas. Tenho preguiça até de mim mesma. Mas nada me dá mais cansaço do que insistir na infelicidade. Não tenho pena, nem dó. Tenho preguiça! Não sei em que ponto da vida esquecemos de pedir uma mãozinha amiga. É fácil confundir um "pedir colo" com desespero e carência. Não queridos, não sou um ser superior super-zen-fantástico que diz "preciso de você agora, me abraça" como quem pede um Big Mac. Muito longe disso. Só que eu afirmo: é um aprendizado possível. E eu vou continuar estudando, até passar no teste. As inscrições estão sempre abertas. Se eu continuar sendo reprovada, você me ajuda?

domingo, 2 de agosto de 2009

Cheers in the shower


Hoje eu cheguei à conclusão de que as melhores idéias sempre chegam na hora em que estou tomando banho. Idéias boas, ruins. Loucas, sensatas. Às vezes saio chorando do box. Outras vezes saio louca para escrever sobre aquilo. Essa noite por exemplo: liguei o chuveiro pensando em pessoas que se perderam de mim, pessoas que eu quis muito por perto. E enquanto eu verificava a temperatura da água( e dos meus sentimentos) pensei naquelas pessoas que já considerei rivais, inimigas, desafetos. Como preferirem. Esses seres existem nas nossas vidas, gostemos ou não. Foi regulando meu banho, durante a passagem do pelando-de-quente para o confortavelmente-quente que eu me dei conta do quanto essas pessoas foram e são importantes para o meu crescimento pessoal.Com elas eu aprendi a ser mais paciente; mais amorosa; mais corajosa; aprendi a me livrar de muitas amarras que me foram impostas socialmente durante o que eu chamo de vida. Das pessoas que me quiseram mal, tirei o melhor. Aquelas para quem eu desejei mal, me perseguiram noites a fio. Aquilo que odiamos em nós mesmos é sempre ainda mais odiável no outro. Enquanto fechava meus olhos, sentindo a água escorrer, senti que ia escorrendo também alguns dos meus preconceitos, minhas inseguranças. Acreditando que se não fosse aquela pessoa que eu tanto desejei nunca ter acontecido na minha vida, eu não estaria debaixo de um chuveiro pensando no tipo de cidadã que eu quero ser. No quanto eu já errei e acabei colocando a culpa num destino que nunca teve nada a ver com isso. Que tenhamos humildade e capacidade para reconhecer nossas falhas e nossas necessidades, e que aqueles que nos incomodam e que nos querem ver por trás tenham o gosto amargo do que mais temem: nosso próprio sucesso. Aos que desejaram, por um segundo que seja, a minha queda, um brinde. É devido à sua existencia que sou uma pessoa cada vez melhor, cada vez mais completa. Obrigado por isso. Tim-tim.
"Now that she's back in the atmosphere
With drops of Jupiter in her hair
She acts like summer and walks like rain
Reminds me that there's a time to change
Since the return of her stay on the moon
She listens like spring and she talks like June..hey hey.."

sábado, 1 de agosto de 2009

Julieta

Desde pequena sempre teve dor de cabeça por causa de seu nome. A mãe, romântica incurável, sempre foi apaixonada por Shakespeare. Foi assim que nasceu Julieta Maria Ramos Bongiollo com nome de heroína sofredora. Quis o destino que não fosse bem assim. Cresceu então, acreditando que deveria ser sempre uma boa menina. Sempre recatada, respeitosa e difícil quando se tratasse de homens. "Só assim um homem dá valor a uma mulher, minha filha", dizia Dona Dolores. Dolores, de dramalhões mexicanos. E mesmo suspeitando não se tratar de uma verdade universal, Julieta ia guardando os conselhos da mãe. Mas a sua verdade universal, temia, era outra.
No dia do aniversário de 18 anos roubou a velha garrafa do bourbon antigo do pai, sentou sozinha e, literalmente encheu a cara. Não, não era heroína. Nem sofredora. Julieta não sabia o que queria de um romance. Na verdade ela nem sabia se queria um romance. Julieta queria colocar-se à prova. Deitada na calçada suja, enquanto definia o que tinha naquele coração sem contornos, o vizinho ouvia Cazuza. "Seu amor é uma mentira que a minha vaidade quer". E ela queria.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Aquela história

Para ouvir ao som de “Outra vez” do Roberto Carlos


Era só uma menina. Ele, só um menino. Dizem por aí que o que atrai duas pessoas são seus gostos ou seus desejos. Dizem também que o elo mais forte são os que são feitos através das nossas feridas. Compartilhar sorriso é sempre muito fácil. Dividir aquilo que dói é muito caro.

A velha história: ela era aquela menina vestida com seus costumeiros jeans e bata (“A Mariana é tão básica né?” diria sua prima) enquanto ele era aquele menino com cara de sono que queria ser mais responsável. E foi um dia assim, numa sala de aula verde e oval que eles se viram pela primeira vez. E no mesmo dia assim quando se viram pela segunda vez, numa outra sala, esta branca e quadrada, um sorriso. Ela tinha nas mãos uma caneta Bic e um coração em pedaços. E ele tinha um tubo de cola e um pedaço de coração vazio.

Por seis meses ela iria se arrumar todos os dias de manhã, com perfume e corretivo, pra atrair a atenção dele. Durante seis meses ele ia dar a ela exatamente o que ela precisava. Mas não o que ela queria.

A cada intervalo de aula, ela se calava. E se tornariam amigos por imposição das amigas dela, não do destino dos dois (“Ai Mariana você é tão boba! Vamos lá falar com ele.”).

Tic-tac, Tum-tum. É o coração dela ou o tempo fugindo pelas mãos?

Percebeu que não haveria mais volta no dia que se deu conta que estava perdida. Perdidamente apaixonada.

O primeiro beijo aconteceu de uma forma natural e ao mesmo tempo ensaiada. Aquela cena tinha muitos beijos mas sempre os mesmos atores. E foi então que ela teve medo. A fórmula paixão e realidade era muito perigosa e um novo fato, antes invisível a eles, se tornava real também. Ela, uma menina de jeans e bata, namorada do cara superbacana, apaixonada por um menino com cara de sono que namorava uma menina de covinhas.Talvez não houvesse mais os olhos multicoloridos, o sorriso que aquecia seus sonhos. E por ter medo, mascarou seu amor e escolheu agir de acordo com o que pensava e não com o que sentia. A mentira agora era pior. Ela cometia a traição mais dificil de ser perdoada: traía a si mesma.

O amor proibido foi interrompido. Ele mudou de cidade, mudou de amigos. Ela continuou apaixonada. Tic-tac, Tum-tum. O coração da menina de jeans e bata segue os passos do tempo. E carrega aquele amor, aquela chama. Tiveram muitos encontros e desencontros durante os anos que seguiram. Tiveram sorrisos e muitas lágrimas, sempre dela. Em cada encontro ela permaneceria encantada pela magia que nunca entendeu, de um simples menino com cara de sono e olhos multicoloridos. O único que entendia o coração dela, o único que nunca explicou suas razões.

E tanto tempo depois daquele dia, depois de terem trocado de namorados, de maneiras e até de casa, ainda existe esse elo que ela não entende e que ele não compreende. Ela se despiu das máscaras e vestiu a própria roupa. Ele se tornou responsável e se apaixonou de novo. Ela ainda pensava nele, ele talvez pensasse nela de vez em quando. A vida seguia seu rumo, infestada de lembranças que queimavam em um quarto escuro e sem forma que eles trancaram com chaves trocadas. Uma porta que só se abre em sonhos multicoloridos onde uma menina de jeans e bata dança com um menino de sorriso doce que permanece com cara de sono.

segunda-feira, 29 de junho de 2009


Uma vez, quando tinha uns 11 anos uma pessoa que eu gostava muito disse que eu era uma menina azeda e que todo mundo me achava esnobe. Chorei por 3 dias. Eu achava que quando alguém te diz que voce é alguma coisa, é porque aquilo é verdade. As pessoas vêem os aspectos do lado de fora, como uma vitrine. Então arrumava o manequim, pra agradar o público. Descobri que cada vez mais me sentia uma boneca do shopping, sempre sorrindo e querendo ser aceita. A noite, quando as lojas se fecham e as luzes da vitrine se apagam, somos todos invisíveis. Ninguém sabe o que acontece. Ninguém vê as lágrimas, a timidez, as brincadeiras solitárias, os dias ruins, a vergonha. Ninguém sabe se o manequim se sente um estranho naquele mundo de pessoas sorridentes e sempre bizarramente alegres. Só que, como num conto fantástico onde os bonecos ganham vida quando todos vão dormir, há vida no silêncio que ninguém vê. E um dia, a manequim se cansa de agradar o público, os clientes e resolve dar uma volta por ai, experimentar novas maneiras de ser, novos gostos, novos olhares. Talvez ela nem quisesse ser mais manequim. Quando a gente vive atrás de vidro, não há espelhos. Acaba se perdendo em reflexos alheios. Claro, é bom ver de ângulos externos. São os que muitas vezes nos apontam a olhar pra dentro. Olhar pra dentro é algo que deve ser feito, é algo que eu tento fazer o tempo todo. A manequim descobriu que tudo bem se não agradar, tudo bem não ser como suas expectativas, mesmo que fossem baseadas na expectativa de alguém. Que as pessoas têm seus dias ruins como ela e que o que se pode fazer é respeitar as asperezas do ser humano e do próprio ser que também é humano, mesmo tendo aspecto de gesso.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Era uma vez, 17 cavalos marinhos de 496 léguas distantes


Querido Príncipe,
Lembro da primeira vez que te vi. Você, lindo e loiro naquele cavalo. Nunca me esqueço, um mustangue branco puro sangue. Parecia uma pintura saída dos meus sonhos. Nossa Príncipe, já imaginei nós dois, em um dos famosos bailes reais, dançando ao som de Billie Holiday. Vou te dizer uma coisa, cheguei a bambear as pernas com essa cena. Eu devia ter suspeitado que junto com tanta beleza devia haver alguma maldição.
Principe, meu bem: neném, baby não são apelidos carinhosos para uma princesa que voce conhece há 2 horas. Ah, mas o sorriso, a beleza. Que sorte a sua.
Eu cresci numa torre alta e isolada te esperando, ouvindo histórias sobre voce e com a esperança de que mesmo contra todas as probabilidades o sapo virasse príncipe. Não era pra ser o contrário. Nunca tinha visto um príncipe falar como sapo. Se eu soubesse, teria cortado minhas tranças pra que você nunca conseguisse escalar aquela droga de torre.
Hoje te escrevo para te parabenizar e para agradecer. Parabenizar por ser tão fiel aqueles filmes idiotas sendo um fracassado, ao invés de interpretar um. Parabéns pelo cavalo de sangue real que voce ganhou do seu pai por superar os níveis de babaquice, tão aclamados por ele. Obrigado por tentar me agradar. Voce tem lá seus momentos. Mas olha, fica o conselho: Princesa não curte filme pornô, nem apelidos estúpidos, nem mentira deslavada. Apesar de conhecer uma ou outra desesperada que aceite. Obrigado por tornar tão fácil a minha recusa ao seu pedido de casamento.O feliz pra sempre pode até estar distante mas o importante é que seja longe....de você.

Nunca sua,

Princesa

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Curto e Grosso.

Chorar ñ resolve, falar pouco é uma virtude.
Aprender a se colocar em primeiro lugar ñ é egoismo e o que não mata com certeza fortalece.
As vezes mudar é preciso, nem tudo vai ser como você quer, a vida continua.
Pra qualquer escolha se segue alguma conseqüência, vontades efêmeras não valem a pena. Quem faz uma vez não faz duas necessariamente, mas quem faz dez, com certeza faz onze.
Essa historia de que é melhor acordar arrependido do que dormir com vontade é mentira!
Perdoar é nobre, esquecer é quase impossivel.
Nem todo mundo é tão legal assim, e de perto niguém é normal.
Quem te merece não te faz chorar, quem gosta cuida, o que está no passado tem motivos para não fazer parte do seu presente.
Não é preciso perder pra aprender a dar valor. Amigos, ainda se contam nos dedos.
Aos poucos você percebe o que vale a pena, o que se deve guardar pro resto da vida, e o que nunca deveria ter entrado nela.
Não tem como esconder a verdade, nem tem como enterrar o passado. O tempo sempre vai ser o melhor remédio, mas seus resultados nem sempre são imediatos.
Não fique preocupado, voce nunca sabe quem está se apaixonando pelo seu sorriso.

(Autor Anônimo)

terça-feira, 2 de junho de 2009

O nosso verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar de inteligência sobre nós mesmos.

( Marguerite Yourcenar )

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Take the time to make some sense
Of what you want to say
And cast your words away upon the waves
And sail them home with acquiesce
On a ship of hope today
And as they land upon the shore
Tell them not to fear no more
Say it loud and sing ir proud today.


sexta-feira, 8 de maio de 2009

Without Glass Slippers




Era uma vez uma menina com sonhos e expectativas. Era uma vez sapatinhos feitos de cristal. Era uma vez um conto de fadas que nunca existiu. Era uma vez.
Realidade, maturidade, responsabilidade. Palavras que ouvi bastante enquanto crescia, de pessoas e da minha própria consciência. Palavras que foram dando novos contornos aos meus castelos, expêriencias que me fizeram vender meu cavalo alado(o nome dele era Trovão), príncipes que foram se transformando em sapos. Deixar os sapatinhos de cristal e as capas de super-heróis não é facil. Mas a gente acaba se despindo, de uma maneira ou de outra.
Entre os capítulos da minha história aprendi que estou sempre mudando, construindo e derrubando partes que não combinam mais comigo.
O nome do blog veio de presente, enquanto eu procurava inspiração. E todo mundo sabe que quanto mais procura menos você acha. Então, enquanto arrumava a bolsa, achei um cartão. Disney- Where glass slippers always fit(Disney- Onde sapatinhos de cristal sempre se encaixam). Lembrei da menina dos contos de fadas e abri meu armário. Meus sapatinhos de cristal não servem mais. Meus sonhos e expectativas também não.
Era uma vez uma mulher com uma idéia e alguma fé nas pessoas. Era uma vez uma mulher descalça. Era uma vez pés que aprendiam a andar sobre os concretos mais grosseiros e sobre os tapetes mais macios. Era uma vez.

O muro

Penso que houve um momento onde algo se rompeu. Como o dia se quebra pra virar noite. Sutil, as cores vão mudando, você vê amarelo, laranja, às vezes rosa. De repente o azul virou negro e você lá, no mesmo lugar. Mas tudo mudou.

Meu nome é Olivia e sou o que chamam de uma pessoa fragmentada. Pelo menos esse foi o diagnóstico da minha terapeuta. Tenho pedaços soltos que não se colam. Como o cristal que não se ajusta depois de quebrado. Pequenos estilhaços que se perdem porque são frágeis demais pra suportar. Nunca me considerei frágil. Talvez porque sempre me considerei inteira.

Numa das noites que seguem um dia difícil, me deparei com minha imagem no espelho. Meus olhos estavam inchados e vermelhos e meu rosto estava ardendo. Precisava de um pouco de água gelada. Já teve a sensação do frio da água em contato com a pele em chamas? Experimente, é reconfortante. Fiquei encarando aquela imagem por algum tempo, uma mulher com os olhos pequenos e vermelhos. Não sei quem ou como começou, só vi que aquela mulher falava comigo.

- Você parece cansada.

- Dia ruim.

- Imaginei. Noite longa?

- Provavelmente, dias ruins sempre são seguidos de noites assim. Acabam num muro intransponível e acabo vencida pelo sono.

- Você sabe o que dizem sobre esses muros.

- Não faço idéia.

- Quando se chega a um muro intransponível não há muito que fazer. É quebrar a cara ou quebrar o muro.

- Uma marreta agora ia ser perfeita.

- Talvez seja o mais óbvio. Não o mais eficiente, no seu caso. Melhor arrumar alguns band-aids e gelo, pode ser que você precise.

Fui dormir convencida de que precisava de uma maleta de primeiros socorros e um capacete. A batalha com o muro estava começando e eu precisava descobrir como chegar do outro lado.

quinta-feira, 30 de abril de 2009


A verdadeira viagem de descoberta não consiste em procurar novas paisagens, mas em ter novos olhos.
(Marcel Proust)

quarta-feira, 22 de abril de 2009

The reason why

Muitos me perguntam: o que é isso? Pra que escrever um blog?
Pra mim escrever não só é minha melhor forma de expressão como também é terapêutico. Khalil Gibran definiu o que pra mim parecia insano, essa vontade de pôr em palavras meus dramas e karmas, pensamentos e histórias: "E encontrei liberdade e segurança na minha loucura. A liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aqueles que nos compreendem nos escravizam de alguma forma". Exatamente assim comigo. Não procuro compreensão aqui. A razão de existir desse blog primeiramente é, somar dividindo. Compartilhar a minha loucura, a minha incompreensão do mundo, bem como o meu êxtase diante dele. Um canal que não tem na tv, uma parte que é desconhecida. Para o mundo e por vezes até pra mim.
Escrevo o que mexe comigo, o que me toca. E o que me fere também. Ficção, realidade, drama e filosofias. Criei esse blog pra ser meu lugar especial, meu esconderijo quando o mundo parece não fazer sentido. Se ele faz sentido ou não, não me importa. Afinal, as coisas que mais mexem com a gente são as mesmas que não fazem sentido algum a primeira vista.

quinta-feira, 16 de abril de 2009


"Feliz é o destino da inocente vestal; esquecendo o mundo e sendo por ele esquecida. Brilho eterno de uma mente sem lembranças; Toda prece é ouvida, toda graça se alcança."

Alexander Pope

terça-feira, 14 de abril de 2009

Apesar de.

'Porque você não pode voltar atrás no que vê. Você pode se recusar a ver, o tempo que quiser: até o fim de sua maldita vida, você pode recusar, sem necessidade de rever seus mitos ou movimentar-se de seu lugarzinho confortável. Mas a partir do momento em que você vê, mesmo involuntariamente, você está perdido: as coisas não voltarão a ser mais as mesmas e você próprio já não será o mesmo. '

'Eles', O ovo apunhalado
Caio Fernando Abreu.


Começo meu texto com essa frase. Por quê? Porque ela diz muito do que acontece com a gente, o tempo todo. Ou porque, como diria um amigo meu, ela estava la, simples assim.
A gente fecha os olhos tantas vezes ao longo da vida e nem percebemos. Quando estamos cansados, fechamos os olhos para mergulhar na escuridão e buscar paz. Quando estamos com medo, fechamos os olhos para não ver o que está pra acontecer. Quando estamos com muito medo, fechamos os olhos do coração, pra não sentir. Escrevendo um email eu me dei conta o quanto a gente se engana, o quanto a gente tenta cegar aquele ponto da alma que dói.
Por que voce sente falta de alguém? Por que você chora de saudade? Podem existir muitas explicações, todas querem dizer o mesmo: porque queremos um momento que não volta, queremos roubar o passado, a lembrança. Reviver o que nos foi tirado pelo tempo. O que não nos damos conta é que, além do passado não ter volta (por isso se chama passado) ele nunca será o mesmo. Tudo que nos acontece nos modifica. E mesmo que você não perceba, mesmo que você ache que ainda ama aquela pessoa loucamente, mesmo que você pense que já cicatrizou a ferida, mesmo que você tenha certeza que é o mesmo cidadão ou cidadã que era há 5 anos, voce erra. Você não é mais. Isso pode ser bom ou pode ser ruim, quem vai saber é só você.
Eu sou uma pessoa extremamente melancólica. Eu sou do tipo que chora quando vê uma foto. Do tipo que fecha os olhos desejando abrir e estar em outro lugar. Do tipo que quer abraçar todos os amigos e amigas, ao mesmo tempo. Do meu tipo. Fechei meus olhos inúmeras vezes porque não queria ver, porque queria adiar, porque não estava pronta pra ver. E descobri que a gente nem sempre escolhe. Ver não é olhar; é sentir, é ouvir, é a lâmpada que acende na sua cabeça. Às vezes você olha pra uma situação ou uma pessoa por muito tempo e não a vê. De repente, um elemento que sempre é desconhecido na maioria das vezes te faz enxergar, seja com os olhos, os ouvidos, com o coração.
O tempo nem sempre (melhor dizer quase nunca) estará do nosso lado. Ele carrega nossa memória, carrega as pessoas que amamos para caminhos diferentes, carrega nossa inocência em acreditar que vale a pena. Porém como tudo tem dois lados, o tempo também traz coisas pra perto. Por vezes boas, por vezes ruins. Não sei se é algo relativo, essa coisa do tempo. Pode fazer 5 meses que não vejo uma amiga mas eu sinto ela pertinho de mim, mesmo estando em outro continente. Às vezes a gente vê uma pessoa todos os dias e não sente a presença dela.
Tudo aquilo que vimos nos transformou em quem somos hoje. Cabe a você fazer disso um aliado ou um inimigo. Eu prefiro o aliado. Nem tudo que vi, ouvi e senti foi bonito. Ironicamente são as coisas ruins que fazem eco na minha cabeça todo o tempo e me fazem querer me enterrar na minha cama e não voltar. Ironicamente também são as coisas boas que me fazem voltar mais forte, e melhor. É o apesar de.
Apesar de cair, eu sei levantar. Apesar de me machucar, eu sei que existe recomeço. Apesar de estar cansada, eu tenho motivos pra me renovar.
É o que vai definir o tipo de vida que voce levará. Você tanto pode ser feliz, apesar de ter tristezas enterradas em você. Ou pode ser infeliz, apesar de ter momentos alegres. A escolha é sempre nossa, apesar de acharmos que não é.