Desde pequena sempre teve dor de cabeça por causa de seu nome. A mãe, romântica incurável, sempre foi apaixonada por Shakespeare. Foi assim que nasceu Julieta Maria Ramos Bongiollo com nome de heroína sofredora. Quis o destino que não fosse bem assim. Cresceu então, acreditando que deveria ser sempre uma boa menina. Sempre recatada, respeitosa e difícil quando se tratasse de homens. "Só assim um homem dá valor a uma mulher, minha filha", dizia Dona Dolores. Dolores, de dramalhões mexicanos. E mesmo suspeitando não se tratar de uma verdade universal, Julieta ia guardando os conselhos da mãe. Mas a sua verdade universal, temia, era outra.
No dia do aniversário de 18 anos roubou a velha garrafa do bourbon antigo do pai, sentou sozinha e, literalmente encheu a cara. Não, não era heroína. Nem sofredora. Julieta não sabia o que queria de um romance. Na verdade ela nem sabia se queria um romance. Julieta queria colocar-se à prova. Deitada na calçada suja, enquanto definia o que tinha naquele coração sem contornos, o vizinho ouvia Cazuza. "Seu amor é uma mentira que a minha vaidade quer". E ela queria.
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