Coisas que não vemos mas sabemos existir. Desejos e histórias que nascem e morrem num piscar de olhos. Palavras de um cérebro que sente e um coração que pensa. Eu nunca vi uma estrela cadente e mesmo assim procuro por ela todas as noites.

segunda-feira, 29 de junho de 2009


Uma vez, quando tinha uns 11 anos uma pessoa que eu gostava muito disse que eu era uma menina azeda e que todo mundo me achava esnobe. Chorei por 3 dias. Eu achava que quando alguém te diz que voce é alguma coisa, é porque aquilo é verdade. As pessoas vêem os aspectos do lado de fora, como uma vitrine. Então arrumava o manequim, pra agradar o público. Descobri que cada vez mais me sentia uma boneca do shopping, sempre sorrindo e querendo ser aceita. A noite, quando as lojas se fecham e as luzes da vitrine se apagam, somos todos invisíveis. Ninguém sabe o que acontece. Ninguém vê as lágrimas, a timidez, as brincadeiras solitárias, os dias ruins, a vergonha. Ninguém sabe se o manequim se sente um estranho naquele mundo de pessoas sorridentes e sempre bizarramente alegres. Só que, como num conto fantástico onde os bonecos ganham vida quando todos vão dormir, há vida no silêncio que ninguém vê. E um dia, a manequim se cansa de agradar o público, os clientes e resolve dar uma volta por ai, experimentar novas maneiras de ser, novos gostos, novos olhares. Talvez ela nem quisesse ser mais manequim. Quando a gente vive atrás de vidro, não há espelhos. Acaba se perdendo em reflexos alheios. Claro, é bom ver de ângulos externos. São os que muitas vezes nos apontam a olhar pra dentro. Olhar pra dentro é algo que deve ser feito, é algo que eu tento fazer o tempo todo. A manequim descobriu que tudo bem se não agradar, tudo bem não ser como suas expectativas, mesmo que fossem baseadas na expectativa de alguém. Que as pessoas têm seus dias ruins como ela e que o que se pode fazer é respeitar as asperezas do ser humano e do próprio ser que também é humano, mesmo tendo aspecto de gesso.

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