Coisas que não vemos mas sabemos existir. Desejos e histórias que nascem e morrem num piscar de olhos. Palavras de um cérebro que sente e um coração que pensa. Eu nunca vi uma estrela cadente e mesmo assim procuro por ela todas as noites.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O velório do que já foi

“Esperar um pouco menos, amar um pouco mais”. Quando li essa frase, muitas cores povoaram meu pensamento. Arthur Shopenhauer dizia que toda ausência gera um desejo. Dessa forma, sempre que atingimos um objetivo criamos um novo, pois a falta dele nos é insuportável. Onde começa o desejo e onde termina a satisfação?
O tema trouxe a necessidade de pensar nesse valor: o da ausência. Sempre sentimos falta de alguma coisa. Na mitologia grega, a mãe de Eros era a Penúria. Qual o sentido disso? Eros é a personificação do desejo e sua mãe, da falta de. Portanto a falta gera o desejo. Shopenhauer devia gostar de mitologia.
Sentimos em nós lacunas que uma vez foram preenchidas. Nostalgias. Espaços que foram ocupados e jazem sem dono, inférteis. Os estóicos sugeriram que devêssemos viver de forma que não fôssemos escravizados pela paixão. Que deveria se esperar menos, amar mais. Viver de acordo como a Natureza nos impõe, ou no português claro, o destino. Se desejarmos sempre aquilo que não temos, viveremos sempre num estado de infelicidade. Nesse caso, a paixão é infeliz.
Não sei até que ponto essa filosofia se aplica realmente. Digo na vida real, aquela vivida a cada minuto, inclusive este. Há em nós esses vazios que não se completam, mas que nos impulsionam a arder a chama, a realizar um desejo. Mesmo que seja um fogo temporário.
O ciclo vital nos empurra, invariavelmente, para frente. Nós é que insistimos em voltar nosso rosto e por vezes nosso coração para o que já passou. Estradas que ficam impressas nos pneus da memória.
A paixão não necessariamente escraviza. Ela é a expressão mais ardente de um desejo que não cabe dentro de um corpo, que precisa ser externa, aguda, gritante. Não existe sabedoria no desejo. Entendo o desejo como entendo o vazio. São lados de uma mesma moeda girando, girando, girando.
Não me conformo com a vida acontecendo dentro do círculo dos 99, onde a infelicidade da ausência da última moeda faz o menestrel esquecer as 99 que já tem. Se nos permitirmos entrar nesse ciclo, como o próprio nome já diz, não há evolução. E se tem uma coisa que tira do sério quem tem urgência em ser feliz, é vocação pra cavar buraco em volta dos próprios pés.
Cada um vai achar uma saída, uma resposta. Alguns acharão em Deus, outros acharão em uma relação, no Universo, no desconhecido, tanto faz. Transcender não tem receita, não tem atalho, muito menos definição. Você pode chafurdar na lama, correr até sentir que suas pernas sumiram, rodar até o mundo parecer um borrão. O que vai importar é como você vai reagir quando a chuva molhar seu rosto e encharcar sua alma. É ser capaz de receber o gosto, o cheiro e a sensação da água sobre a pele. E se tudo isso te fizer pensar que há uma comunhão entre você e o resto do mundo, por alguns segundos todos aqueles espaços e todas aquelas saudades são preenchidas por versões de você, que têm que coexistir num mesmo corpo, que anseia por novas maneiras de ser.
O desejo, a ausência. “Elle ne savait pas que l'Enfer, c'est l'absence”. Ela não sabia que o inferno é a ausência. I can’t get no satisfaction. Nós sempre vamos querer mais. Verlaine, Shopenhauer, Mick Jagger, e até Buda tinha questionamentos sobre o tema. Se a resposta não existir afinal, pelo menos teremos algo a buscar e, afinal, era esse o ponto principal desde o começo.

3 comentários:

  1. Cada dia melhor minha amiga! Parabéns!!! Parabéns de coração. Adorei está. Que os bons ventos da inspiração sempre lhe toquem! Bjão e "inté mais tarde, né messssss" rsrsrsrs.
    Gui

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  2. Um prazer seu blog Patricia! Muito sensato sua colocação. Me inspirou bastante! beijo, Rogério Shareid

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