Meu quarto, 04 de Julho de 1995
Lembra o que eu te disse sobre idealizações, orgulho e coisas que
só existem na nossa cabeça?
Então, quero te contar uma história. É sobre duas pessoas que
são incrivelmente parecidas em quase todos os aspectos. É sobre dois amigos que
vivem no cabo de guerra, se alfinetando, se provocando e ao mesmo tempo se
incentivando, compartilhando. Uma história sobre duas pessoas que lutam para
não acreditarem que no fundo existe um desejo, uma curiosidade, uma vontade de
cruzar a linha e vencer o cabo de guerra: os dois vencem. Essa história é sobre
eu e você.
Seguimos caminhos separados e paralelos. Idealizamos as pessoas
que no fundo, sabemos que não são pra gente. E talvez tenhamos medo do que a
gente mais quer na vida. Somos orgulhosos porém acreditamos no amor. Na
entrega, no companheirismo, na amizade, no desejo, no tesão. Temos sintonia,
nos entendemos no olhar e somos mal-humorados. E adequadamente maldosos com os
outros (já te falei para parar de me olhar daquele jeito).
O problema dos cabos de guerra é que alguém precisa ceder e ”perder”.
E eu sinto que cheguei num ponto em que não quero ganhar de você, mas quero
ganhar você, de presente, pra mim. Inteiro.
Creio que existem duas vontades, mas preciso que você dê esse
passo e me diga que não estou louca. E aí eu largo o meu lado do cabo e corro para
o abraço (o seu).
Isso tudo faz sentido ou fiquei louca de vez?
Se estiver errada, significa que queremos coisas diferentes. Não
só da vida, mas um do outro. E eu prefiro deixar a guerra inteira a competir
por uma metade amputada. Eu sempre vou amar você. Foi importante pra mim,
chegou em hora importante e por um tempo saiu da minha vida mas nunca do meu
coração. E quando você voltou, tinha um lugar muito mais bonito que é só seu.
Independente do que acontecer, carinho assim não acaba de uma hora pra outra.
Fica a lembrança, o sorriso largo no rosto quando lembrar de você. E sigo em
frente, feliz por não ter sido covarde com o que pulsa aqui dentro. Porque
sempre haverão outras pessoas, outros amores e outras possibilidades e sei que
seremos felizes apesar de nós. Mas eu espero que a gente seja feliz por causa
de nós.
Te pergunto: Fica comigo?
PS: Você pensa demais.
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