Coisas que não vemos mas sabemos existir. Desejos e histórias que nascem e morrem num piscar de olhos. Palavras de um cérebro que sente e um coração que pensa. Eu nunca vi uma estrela cadente e mesmo assim procuro por ela todas as noites.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Cartas de Gaveta - Volume 2

São Paulo, 16 de março de 2003.

E mesmo depois que você se foi, ainda que tivesse demorado tanto, desocupou meu coração. Fiz vigília por tanto tempo, esperando que você se fosse...um dia não estava mais lá. Simples. Silencioso. Como quando partiu naquele dia amargo.
Deixou no vazio do quarto escuro somente uma caixa preta, a porta trancada do lado de fora.
Depois que você se foi havia uma caixa, que nunca abri.
Um dia, como se vivesse, ela se abriu. Sozinha.
Saíram palavras que se arrastavam pelas paredes, formando perguntas tortas, algumas saladas de letras. Coisas que nunca vou saber. Será que chegou a acreditar na nossa eternidade? Houveram noites depois do fim em que se pegou pensando no cheiro dos meus cabelos? No som da minha risada escandalosa? Qual a importância eu causei da tua estrada?
As palavras foram se espremendo na parede que não era mais vazia, formando perguntas órfãs sem espaço para respostas.
Quantas cores tinham meus olhos?
Tranquei a porta e não preciso mais vigiá-la. Deixo a chave debaixo do tapete no caso de você resolver voltar. Talvez possa pintar as paredes de branco.


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